O senador Romero Jucá (PMDB-RR), relator da
proposta de regulamentação do direito de greve dos servidores públicos,
admitiu, nesta quinta-feira, que poderá incluir a negociação coletiva no texto
final do projeto de lei.
A adoção de mecanismos que permitam o diálogo
prévio entre sindicatos e governos, quanto a salários e condições de trabalho,
foi uma das reivindicações apresentadas por oito centrais sindicais, em
audiência pública da Comissão Mista de Consolidação da Legislação Federal.
Deputados e senadores desse colegiado tentam
regulamentar o direito de greve do funcionalismo público, previsto na
Constituição. Um anteprojeto já foi elaborado, mas recebeu fortes críticas dos
sindicalistas.
Convenção da OIT
Flávio Werneck, representante da Central dos
Sindicatos Brasileiros (CSB), afirmou que a categoria exige que a
regulamentação do direito de greve obedeça à Convenção 151 da Organização Internacional
do Trabalho (OIT) - que trata da organização sindical e do processo de
negociação dos trabalhadores do serviço público - e venha acompanhada de
mecanismos para a negociação coletiva e a reposição de perdas salariais.
"Na iniciativa privada, temos a
negociação coletiva, a data-base e, se houver algum problema, o dissídio”,
explica Werneck. “No funcionalismo público, o que temos é greve para iniciar
uma negociação; marca-se reunião para se marcar outra reunião e se impor
índices e valores aos servidores públicos. É isso que ocorre hoje na
pseudonegociação com servidores públicos."
Ampliar a abordagem
O senador Romero Jucá ressaltou que o foco
dos parlamentares é mesmo o direito de greve, que aguarda regulamentação há 25
anos. No entanto, Jucá admite ampliar a abordagem da proposta: "Na
evolução dessa discussão, vou tentar fazer um contorcionismo legislativo para
tentar inserir, na questão do direito de greve, outros dispositivos como a
negociação, a data-base e outras questões".
"É tentar ver se é possível trazer para
a regulamentação do direito de greve uma forma de definir alguns procedimentos
de negociação que evitem a greve. No setor público, muitas vezes é a greve que
inicia o processo negociação”, destacou Jucá.
“Se a gente tiver um outro processo de
negociação que evite a greve, a gente estará evitando problemas para a
sociedade”, acrescentou o senador. “A greve no setor público não atinge o
empresário nem o lucro de empresa. Atinge a sociedade com a ausência da
prestação do serviço de qualidade e a gente quer evitar isso."
Manutenção do trabalho
As centrais sindicais avaliam que vários pontos
do anteprojeto inibem o direito de greve do funcionalismo público. Um deles é o
que exige a manutenção do trabalho de, pelo menos, metade do efetivo de
trabalho em caso de greve. Na área de segurança de pública, 80% dos servidores
devem continuar trabalhando.
Maria Costa, da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), protestou: "Isso não é fazer greve. Isso é proibir
greve. Nós não podemos aceitar esse atropelo. A CUT declara que não tem acordo
com o conteúdo colocado".
Autonomia dos sindicatos
Segundo as centrais, o texto também tira a
autonomia de os sindicatos negociarem em nome dos servidores; não prevê as
devidas punições para os órgãos públicos; traz dúvidas quanto à competência
jurídica para o julgamento das greves; e limita o porte de arma de grevistas da
área de segurança pública.
Rubens Romão, da Força Sindical, cita ainda a
confusão que pode ser criada diante da atual lei (Lei 7.783/89) que regulamenta o direito de
greve da iniciativa privada. "Nós temos, no serviço público, setores em
que há trabalhadores regidos tanto pelo regime jurídico único estatutário
quanto celetistas”, observa Romão. “Como é que fica essa relação? Faz-se uma
greve com uma parte com base na CLT e outra com base em uma lei para os
servidores públicos em geral?"
Prazo
O presidente da comissão mista, deputado
Cândido Vaccarezza (PT-SP), não quis fixar prazo para a apresentação do texto
final do anteprojeto. Segundo ele, ainda haverá negociação com o governo, mas a
prioridade é ampliar o diálogo com o movimento sindical: "Vou priorizar a
negociação com o movimento sindical, mas queremos também ouvir o governo. Nós
vamos dar um tempo para o diálogo".
Além da CUT, Força Sindical e CSB, também
participaram da audiência pública representantes da Central dos Trabalhadores
do Brasil (CTB), Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), Central Geral
dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), União Geral dos Trabalhadores (UGT) e
Central Sindical e Popular (Conlutas).
Fonte:
Câmara Notícia
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