4 de junho de 2015

A REPRESENTATIVIDADE SINDICAL E SUA CRISE


Impôs-se, à minha consciência, depois de refletir sobre a manifestação do dia 23 de março e sobre os discursos dos líderes sindicais, os seguintes problemas: como surgiu a representatividade ou os sindicatos enquanto representatividade? O que os fez entrar em crise? Ao que procurei dar uma resposta nos seguintes termos.

O homem é por natureza um ser de desejo. Ele interfere em seu ambiente buscando satisfazer seus objetivos mais imediatos. Ao perceber que o seu interesse – quando os objetos de desejos são postos publicamente – é também o interesse de seu semelhante, une-se a ele visando alcança-lo mais facilmente: o objeto comum de desejo torna-se então causa de unidade. E assim surgem os grupos, as comunidades e as classes. Note-se que o cimento social que congregam os homens é “aquilo que é comum” a eles.

Com o passar do tempo, o crescimento populacional e a consequente complexidade das relações sociais – sobretudo os interesses difusos das inúmeras classes – surge também a necessidades de governo e de leis; e assim, surge, inclusive como principio de economia (dada à impossibilidade de dialogar com uma classe muito extensa) a representatividade, isto é, a criação de uma pessoa com amparo legal para representa-las em um possível conflito de interesses entre grupos ou entre grupos e governo. Dessa forma, representatividade significa, neste contexto, fazer conhecido o objeto de interesse de uma classe a outra ou a um gestor através de uma pessoa jurídica que a represente enquanto classe. Dessa forma, a natureza dessa pessoa jurídica, doravante sindicato, é representar a vontade de outro – a coletividade; e para saber ou conhecer essa vontade se requer a escuta atenta, noção incluída já no próprio conceito de representatividade; se requer uma declinação para se poder apreender a vontade da coletividade e transforma-la em discurso: o logos sindical é assim a voz da coletividade organizada já que expressa suas vontades. Portanto, o discurso sindical nasce no interior mesmo da classe.

Então, quando o discurso é construído à parte de sua classe, ele nasce como algo que lhe é alheio: a classe não se reconhece mais no discurso da representatividade. É algo que lhe vem de fora; imposto e que se lhe contrapõe. Não há neste contexto mais representatividade. Nesse sentido, o objeto do discurso passa a ser o produto da vontade daquele que ganhou autonomia em relação a sua classe. É discurso que serve agora de cimento, unindo os indivíduos alienados de suas vontades comuns em prol de um estranho, o sindicato, que os usa como massa de manobra ignorante para mostrar a outros a sua força de agregação, fazendo-os se dobrarem aos seus interesses egoísticos.

Cabe, assim, aos representados, relacionar outra vez a ligação natural entre o pensamento da classe e sua expressão verbal, que é o discurso. Mas, diante da crise da representatividade, como pode isso ser possível? Como é possível a religação entre discurso sindical e vontade coletiva?
Autor: GM Hugo de Albuquerque
Teólogo e pós-graduado em Ciências
da Religião.

Um comentário:

GM Fox disse...

A farda modela o corpo e atrofia a mente
Che Guevara