29 de maio de 2016

POR UM TRIZ: VIGILANTES ENFRENTAM PERIGOS PARA PROTEGER PATRIMÔNIOS



ALÉM DE ENCARAR A CRIMINALIDADE, PROFISSIONAIS SE DEPARAM COM JORNADAS EXAUSTIVAS E BAIXOS SALÁRIOS

Seja dia ou noite, sob chuva ou sol, expostos a todo tipo de violência ou ameaça. Os vigilantes que atuam em Alagoas precisam enfrentar o medo e encarar jornadas exaustivas com o objetivo de proteger patrimônios e, o mais importante, a vida de muitas pessoas.

Sem a devida valorização profissional e com salários considerados baixos, essa categoria enfrenta riscos diários e muitos são os casos de vigilantes que sofrem abalos psicológicos. Isso sem contar na violência física sempre que acontece um assalto a estabelecimento, o que não é raro.

Somente em 2015, a Procuradoria Regional do Trabalho (PRT) recebeu 13 denúncias referentes à atividade dos vigilantes. São casos de assédio moral e desrespeito aos direitos trabalhistas, como baixos salários, carga horária abusiva e ausência de férias. Na Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Alagoas (SRTE-AL) também são muitas as reclamações registradas. Somente entre o ano de 2015 e o primeiro trimestre de 2016 foram 21 denúncias efetuadas.

Um vigilante de uma empresa contratada para realizar serviços em uma área residencial, em Maceió, conta que foi vítima de atentado e assaltado duas vezes no bairro do Farol. Uma das situações aconteceu durante a madrugada. Ele teve lanterna, relógio, e até o colete levado pelos criminosos. 

"Estava fazendo rondas na região quando uma moça estava indo para casa e foi abordada por dois homens. Eu fui averiguar o que estava acontecendo e o bandido anunciou o assalto e levou meus pertences. Fui obrigado a entregar, afinal, o contratante da empresa solicitou que a equipe de vigilância da área não andasse com armas letais. Não tive chances de defesa", desabafa o vigilante, que não quis ser identificado.

Em alguns serviços, as empresas de vigilância são contratadas para fornecer apenas um vigilante, portando colete, um revólver com seis balas e uma lanterna para fazer a guarda de espaços extensos e que necessitam de segurança reforçada. Essa postura torna ainda mais difícil a tarefa do vigilante, pois o deixa vulnerável à violência e impotente para exercer a atividade com eficiência. 


VULNERÁVEIS

Para se ter uma ideia dos riscos aos quais a categoria fica exposta diariamente, somente no ano de 2015, 92 armas foram levadas dos vigilantes por bandidos durante situações de assalto. Em alguns desses casos, os profissionais ficaram feridos e precisaram ficar afastados do serviço. Alguns, inclusive, decidiram mudar de profissão e largar a atividade por conta do medo.

A estimativa do Sindicato dos Vigilantes de Alagoas (Sindvigilantes) é que o estado tenha 40 mil profissionais com formação na área. Desses, cerca de 7 mil estão na ativa atualmente. 

Segundo o presidente do Sindvigilantes, Cícero Ferreira, um colete com refil e revólver são os equipamentos essenciais necessários para a prática da atividade, no entanto, nem todos os contratantes solicitam que os vigilantes usem arma de fogo. Além disso, há também os acessórios complementares, como lanternas, facas, cacetetes, radiocomunicador, que são fundamentais para o bom desempenho da atividade. 

"É obrigatório que as empresas de segurança forneçam para o vigilante colete com refil e revólver calibre 38, neste caso, quando solicitado. Estes são os equipamentos necessários para o exercício da função", conta Ferreira, que também fala sobre a desvalorização desses profissionais. "Esta é uma categoria discriminada. Existem locais que contratam o vigilante e não permitem que ele almoce com outros funcionários e isto é preconceito, total desigualdade", desabafa.

Na maioria dos casos, esses profissionais não são valorizados e muitas vezes são explorados. Foi assim com um vigilante de 35 anos que atua no Bairro da Jatiúca, em Maceió. Ele fala sobre as dificuldades enfrentadas no dia a dia do trabalho, contando que muitas vezes cumpre uma carga horária de 12 horas sem direito a alimentação.

"Eu só posso sair quando o pessoal da limpeza chega na empresa. Não é fácil, é exaustivo e doloroso. Imagine passar 12 horas em um local, sozinho, você e Deus. Sem contar que não dão comida aqui. Eu trago de casa e se não trouxesse ficaria com fome, pois só deixam uma garrafa com água. Gosto do que faço, mas estou aqui porque preciso", desabafa. Ele trabalha na função há cinco anos e atualmente recebe um salário de R$ 1.200 - sem direito a horas extras - para sustentar a esposa e dois filhos. 

Segundo o procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho, Rodrigo Alencar, a lei estabelece que o trabalhador tem direito a intervalo sempre que a jornada de trabalho for maior que 6 horas diárias. ?A lei é clara neste sentido. O descanso após as seis horas de serviço é fundamental?, explica o procurador, destacando que, no caso dos vigilantes, o intervalo é importante principalmente porque a categoria passa muitas horas em pé durante o desempenho da atividade. 

"Recebemos muitas reclamações de vigilantes que trabalham em pé e passam horas sem sentar. Outros não têm, sequer, intervalo durante o serviço e isto é um sério problema enfrentado pela categoria", completou.

VIOLÊNCIA

Um vigilante de 34 anos, que não quis ser identificado, sabe dos riscos que corre durante o serviço, que exerce há sete anos. Há um mês, ele estava sozinho protegendo um posto de saúde, no período noturno, quando criminosos tentaram assaltar o local e efetuaram cinco disparos de arma de fogo contra o mesmo, que revidou, mas foi atingido por um dos disparos na região do abdômen. Ele foi levado para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde foi atendido, e está afastado do serviço por tempo indeterminado. 

"Já fui assaltado uma vez e já ouvi falar de vários colegas que foram, mas nunca imaginei que isso pudesse acontecer comigo. Os assaltantes já chegaram dando tiros na guarita onde eu estava, me defendi e efetuei disparos contra eles, mas quando me levantei percebi que havia levado um tiro e estava sangrando muito. Fiquei assustado e foi Deus quem me salvou, pois poderia ser pior", afirmou o vigilante, que além da dor física, também tem sofrido com problemas psicológicos. "Estou tendo pesadelos à noite achando que estou levando um tiro. Acho que todo mundo é suspeito e estou tomando remédios controlados", destaca.

A falta de equipamentos adequados para realizar a vigilância é um grande problema que pode custar caro.

Há dois anos, José Miguel da Silva, de 58 anos, teve sua vida ceifada pela criminalidade. Ele estava de serviço quando homens armados entraram no posto de saúde em que este trabalhava e efetuaram disparos de arma de fogo. Miguel foi atingido por cinco disparos e morreu no local, antes da chegada do socorro. Ele estava sem colete e sem comunicador para manter contato com o outro vigilante, que suspeitou dos bandidos, mas não teve como avisá-lo, devido à falta do equipamento.

Até hoje a família de José Miguel não se recuperou. Parentes do vigilante relatam que a sofrem diariamente com a ausência do patriarca. 

"Ele sempre foi um pai e marido dedicado, um profissional excelente e elogiado pelos amigos de trabalho. Até hoje a ficha não caiu, nosso sofrimento é diário, no almoço, no jantar, em tudo que fazemos lembramos dele, parece que ainda está aqui. Ainda não me acostumei a dormir sem ele", desabafa a esposa de Miguel, que sofre juntamente com os filhos a dor da ausência do marido. "Não me acostumei a viver sem ele", destaca o filho.
Fonte: Gazetaweb

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