JÁ ASSESSOR DO
INSTITUTO SOU DA PAZ DISSE QUE A IMPLEMENTAÇÃO DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO
COLABOROU COM A QUEDA NO NÚMERO DE ASSASSINATOS POR ARMAS DE FOGO
A Comissão de
Segurança Pública da Câmara discutiu em audiência pública nesta quinta-feira
(13) o decreto das armas (9.785/19), baixado pelo presidente Jair
Bolsonaro há pouco mais de um mês. O decreto facilita o porte de armas para
categorias profissionais como advogados, políticos, caçadores, caminhoneiros e
até jornalistas investigativos. O decreto também permitia a compra de armas de
alto calibre por civis, mas outro decreto emitido duas semanas depois proibiu
isso.
O debate ganhou
força por causa da votação na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, que
aprovou projetos que derrubam o decreto
das armas. As propostas ainda precisam ser votadas pelo Plenário daquela Casa.
Para o advogado
Paul Karsten, o decreto não determina, apenas exemplifica categorias que têm
predisposição a serem vítimas de crimes pela natureza de suas atividades.
Segundo ele, regras sobre porte e posse de armas sempre foram tratadas em nível
infralegal; portanto, na sua avaliação, o decreto do presidente não teria
irregularidade alguma. Ele citou como exemplo uma instrução de 2005 da Polícia
Federal sobre procedimentos a respeito da aquisição, registro e porte de arma
de fogo.
“Não houve
liberação de categorias, houve apenas um reconhecimento de que determinadas
categorias estão expostas a mais risco. Como é que se pode hoje dizer que o
presidente não pode fazer um rol exemplificativo se antes um diretor da Polícia
Federal poderia fazer?”, disse.
O coronel
reformado da PM de São Paulo Elias Miler da Silva foi pelo lado da liberdade em
seus argumentos.
"Então se o
povo brasileiro já se manifestou no referendo- por cada 4, 3 disseram sim - que
eles querem ter a possibilidade de ser armar, e se essa foi uma das bandeiras
do presidente Bolsonaro e o povo o elegeu com essa bandeira, então ele tem que
adotar as medidas legais para cumprir a soberania popular", disse.
Queda na violência
Com opinião minoritária no debate, o assessor do Instituto Sou da Paz Felippe Angeli criticou o decreto de Bolsonaro na forma e no conteúdo. Segundo ele, o tema não poderia ser tratado por decreto. Ele citou dois pareceres jurídicos da consultoria do Senado.
"É muito
claro também, de acordo com toda a evidência técnica disponível, há um consenso
científico nacional e internacional que mostra de forma muito clara a
correlação entre o aumento da circulação de armas e o aumento da violência
letal."
Felippe Angeli
afirmou que diferentes governos de São Paulo reconheceram que há outros fatores
envolvidos na queda de 70% no número de assassinatos por armas de fogo nos
últimos 30 anos, mas deixaram claro que a implementação do Estatuto do
Desarmamento colaborou com a queda. O representante do Sou da Paz também
afirmou que 70% das armas usadas em crimes têm origem no mercado legal.
A deputada
Policial Katia Sastre (PL-SP) lembrou o 12° Anuário do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública que aponta que cerca de 95% das armas de fogo apreendidas em
2017 (aproximadamente 119 mil armas), não foram cadastradas no Sistema Nacional
de Armas. Ela também afirmou que a ONU já reconheceu que não há relação direta
entre o acesso legal da população às armas de fogo e o número de homicídios.
Discussão
ideológica
Segundo o especialista em segurança pública Benê Barbosa, a análise da CCJ do Senado passou longe do tema da constitucionalidade.
"O que se viu
ontem no Senado não foi uma discussão técnica, foi uma discussão ideológica,
político-partidária, chame como quiser, mas não foi técnica. Então os senadores
que ali votaram para derrubar o decreto presidencial votaram por quê? Porque
são defensores do desarmamento da população civil. Eles advogam pelo monopólio
da força na mão do Estado", observou.
Segundo Benê
Barbosa, a cultura contra as armas é um fenômeno recente no Brasil. Ele afirma
que as armas sempre estiveram presentes na sociedade brasileira. Segundo ele,
até 1997, por exemplo, o porte ilegal nem era crime, apenas contravenção.
O deputado Capitão
Alberto Neto (PRB-AM) foi quem propôs a audiência pública. Segundo ele, a
população vai manifestar a sua opinião até a próxima terça-feira (18), quando o
plenário do Senado vai discutir os projetos que buscam derrubar o decreto das
armas.
Fonte: Notícias Câmara -Luiz Cláudio Canuto - Edição – Roberto Seabra
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