MEDIDA
APROFUNDA REFORMA TRABALHISTA, AFIRMA ADVOGADO
COM TEXTO-BASE
RECÉM-APROVADO, 'LIBERDADE ECONÔMICA' ALTERA PONTOS DA CLT E LIBERA TRABALHO
AOS DOMINGOS
Por 345 votos a favor, 76 contra e uma
abstenção, a Câmara dos Deputados aprovou na terça-feira (13) o texto-base da
MP 881/2019, de autoria do governo Jair Bolsonaro (PSL) e chamada por ele de
“MP da Liberdade Econômica”, cujo teor altera pontos da CLT, inclusive sobre o
trabalho aos domingos e feriados. Para o advogado trabalhista Kleber Santos, o
conteúdo aprovado pelos parlamentares aprofunda a reforma trabalhista.
O texto passou por votação de destaques na
Câmara dos Deputados na tarde desta quarta (14) e agora irá para o Senado. As
medidas estão em vigor por se tratar de uma MP, mas se o Congresso não encerrar
seu trâmite até o dia 27, ela perderá validade.
“O texto aprovado aprofunda a reforma
trabalhista em prejuízo ao trabalhador. É uma minirreforma trabalhista dentro
da reforma trabalhista, por assim dizer. Precariza, ainda mais, as relações de
trabalho”, afirma o advogado. “A ideia inicial era mexer com 50 artigos da CLT
e isso foi diminuído bastante, mas ainda sim há grande prejuízo ao
trabalhador”, completa Kléber Santos.
À Tribuna, o
advogado destaca a “institucionalização” do trabalho aos domingos que, segundo
ele, afetará o convívio familiar dos trabalhadores.
“Libera os trabalhos aos domingos, ficando
uma folga nesse dia a cada quatro semanas. Se institucionalizou o trabalho aos
domingos e isso afeta o trabalhador em seu convívio familiar. Antes trabalhar
dia de domingo era uma atividade especial, que precisava de liberação, agora
ficou tudo institucionalizado”, comenta Kleber Santos.
Outros pontos criticados pelo advogado são as
mudanças em relação ao controle da jornada de trabalho, o fim do e-Social e do
Fundo Soberano.
“Antes, as empresas com mais de 10 empregados
tinham de promover o controle da jornada de trabalho, agora essa obrigação para
mais de 20.
Também foi criado um instituto novo que é o ponto
por exceção, que é a assinatura da jornada mediante acordo – individual ou
coletivo – que só se vai registrar hora extra, folga, férias, falta. Ou seja,
não se vai anotar a jornada regular. Na prática, não vai haver anotação
alguma”, afirma o advogado. “Aprovaram o fim do e-Social, que o secretário do
Ministério da Economia [Carlos Alexandre da Costa], maluco, disse que é um
programa socialista. Se autorizou aos bancos abrirem agências aos sábados e se
criou a licença ambiental automática, ou seja, se a atividade não for
preponderantemente perigosa, pode ser feita automaticamente. E acabou com o
Fundo Soberano, que era uma poupança pública para minorar os efeitos da crise”,
completa Kleber Santos à Tribuna.
BANCADA
Dos nove deputados federais de Alagoas, sete
estiveram presentes à sessão da Câmara que aprovou o texto-base da MP 881/2019.
Apenas Paulão (PT) e Marx Beltrão (PSD) não compareceram à votação. Dos
pressentes, todos votaram pela aprovação.
Deputados federais alegam estímulo à economia
O centro dos argumentos de dois dos sete
parlamentares de Alagoas na Câmara dos Deputados ouvidos pela Tribuna é o
estímulo à economia.
Tereza Nelma (PSDB) destaca a votação dos
destaques como forma de aprimorar o texto que vai ao Senado. “Esse foi um voto
favorável ao texto-base da MP 881. A proposta pretende melhorar a economia
nesse momento e estimular a criação de postos de trabalho para superar o
crescente desemprego no país. Ainda votaremos os destaques e, neles, vamos
buscar uma melhora nesse texto que foi apresentado, retirando itens que possam
prejudicar os trabalhadores”, diz Tereza Nelma.
Já João Henrique Caldas (PSB), conhecido como
JHC, também aponta o excesso de burocracia no país como fator para a aprovação
da MP 881. Segundo ele, essa característica é consensual “seja à esquerda ou à
direita”, o que dificulta o empreendedorismo.
“Há um excesso burocrático no Brasil e isso é
consenso, seja à esquerda ou à direita. O Brasil está na 109ª posição, de 150,
no ranking de regulação da Organização Mundial do Comércio [OMC] e em 152, de
183, no ranking de liberdade econômica da Heritage Foundation.
Qualquer um que empreende ou tenha
empreendido por aqui sabe os pesados custos operacionais disso. Superado esse
gargalo, o foco deve ser em outro fator do chamado ‘custo’ Brasil: nossa
infraestrutura deficiente. Infelizmente, isso depende de recursos dos quais o
Estado não dispõe”, afirma JHC.
CUT
Para o diretor da Central Única dos
Trabalhadores (CUT) em Alagoas, Luiz Gomes, a Medida Provisória é voltar ao
passado.
“É como se o Brasil voltasse às décadas de 20
ou 30 do século passado, onde não se tem garantia nenhuma. Em nome da liberdade
econômica se quer escancarar os direitos. Essa permissão do trabalho aos
domingos é um escândalo”, afirma o diretor da CUT em Alagoas.
Luiz Gomes destaca
a situação dos bancários e dos professores.
“Os bancários, por
exemplo, têm uma jornada de trabalho que é uma conquista história de 1962 e
agora vão perder isso. Professores, agora, podem trabalhar nos fins de semana”,
exemplifica Luiz Gomes.
Fonte: TRIBUNA INDEPENDENTE / CARLOS AMARAL
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