29 de outubro de 2019

SERVIDOR PÚBLICO: DO SONHO À DESILUSÃO


Poderia começar pelo clichê – “Não há o que comemorar no dia do servidor público” -, mas a história desses trabalhadores tem um enredo muito mais rico, embora o cenário atual beire a tragicidade.

Meus pais foram servidores públicos federais e tiveram uma carreira com remuneração digna, possibilitando a criação de cinco filhos, que puderam estudar e alcançar sua própria sobrevivência.

Ambos eram dos Correios, uma empresa que foi se deteriorada com o avanço da tecnologia, inevitável, e pela interferência política, um câncer nacional – até hoje sem as devidas medidas preventivas.

Lembro-me que aí pela década de 1970, ser funcionário público estadual era o objeto do desejo dos alagoanos de classe média e até da elite econômica – os que chegavam à universidade e conseguiam se formar.

Para que se tenha uma ideia, um profissional de nível superior que entrava no serviço público começava a sua vida funcional ganhando mais de dez salários mínimos. Tudo bem, que o valor mínimo então não era o mesmo de hoje – comparado com o dólar -, mas a remuneração garantia um padrão de vida bastante razoável.

Aquele mesmo servidor aposenta-se agora recebendo de três a quatro salários mínimos. E na fase da vida em que tratamentos de saúde e cuidados especiais consomem quase todo o holerite.

Lamento dizer, mas nada sinaliza que o serviço público estadual e municipal -, com exceção das carreiras jurídicas, do fisco e outras, residuais – venha a ter uma mudança radical, para melhor, no que refere à remuneração e condições materiais de trabalho.

A ideia de “reforma do Estado” prevê que a estabilidade desapareça, a aposentadoria se torne cada vez mais difícil, retirando, assim, do serviço público o que sobrava de atrativo para uma boa parcela da população.

Se ao menos os governos passassem a valorizar as atividades-fim do Estado, poderia haver ainda alguma esperança para centenas de milhares de trabalhadores que estão hoje – com pouco tempo de atividade – no setor público.

É inegável que o serviço público, historicamente, foi manipulado por quem estava no poder político, criando gerações e gerações de servidores que se frustram rapidamente com o que encontram e são obrigados a arrochar, cada vez mais, o seu orçamento.

E aí perdemos todos: os que estão no serviço público e os dele dependem cada vez mais.
Fonte: Blog do Ricardo Mota

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