Poderia começar pelo clichê – “Não há o que
comemorar no dia do servidor público” -, mas a história desses trabalhadores
tem um enredo muito mais rico, embora o cenário atual beire a tragicidade.
Meus pais foram servidores públicos federais
e tiveram uma carreira com remuneração digna, possibilitando a criação de cinco
filhos, que puderam estudar e alcançar sua própria sobrevivência.
Ambos eram dos Correios, uma empresa que foi
se deteriorada com o avanço da tecnologia, inevitável, e pela interferência
política, um câncer nacional – até hoje sem as devidas medidas preventivas.
Lembro-me que aí pela década de 1970, ser
funcionário público estadual era o objeto do desejo dos alagoanos de classe
média e até da elite econômica – os que chegavam à universidade e conseguiam se
formar.
Para que se tenha uma ideia, um profissional
de nível superior que entrava no serviço público começava a sua vida funcional
ganhando mais de dez salários mínimos. Tudo bem, que o valor mínimo então não
era o mesmo de hoje – comparado com o dólar -, mas a remuneração garantia um
padrão de vida bastante razoável.
Aquele mesmo servidor aposenta-se agora
recebendo de três a quatro salários mínimos. E na fase da vida em que tratamentos
de saúde e cuidados especiais consomem quase todo o holerite.
Lamento dizer, mas nada sinaliza que o
serviço público estadual e municipal -, com exceção das carreiras jurídicas, do
fisco e outras, residuais – venha a ter uma mudança radical, para melhor, no
que refere à remuneração e condições materiais de trabalho.
A ideia de “reforma do Estado” prevê que a
estabilidade desapareça, a aposentadoria se torne cada vez mais difícil,
retirando, assim, do serviço público o que sobrava de atrativo para uma boa
parcela da população.
Se ao menos os governos passassem a valorizar
as atividades-fim do Estado, poderia haver ainda alguma esperança para centenas
de milhares de trabalhadores que estão hoje – com pouco tempo de atividade – no
setor público.
É inegável que o serviço público,
historicamente, foi manipulado por quem estava no poder político, criando
gerações e gerações de servidores que se frustram rapidamente com o que
encontram e são obrigados a arrochar, cada vez mais, o seu orçamento.
E aí perdemos todos: os que estão no serviço
público e os dele dependem cada vez mais.
Fonte: Blog do Ricardo Mota
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